quinta-feira, 11 de junho de 2015

Figuras públicas e imortais


Parece existir, na comunicação social, uma forte tendência para ilustrar as notícias sobre Cascais com a imagem do presidente do actual executivo municipal, mesmo quando o assunto não lhe diz directamente respeito, e sobretudo se versa sobre as figuras que se lhe opõem.
É uma prática no mínimo discutível, sobretudo se tivermos em conta que a figura pública em questão parece ter já o privilégio do acesso quase exclusivo aos média e à propagação dos conteúdos que mais lhe são favoráveis.
Somar a isso a publicação do seu retrato em cada notícia que refere o concelho e não lhe diz especialmente respeito, quase parece propaganda à moda dos antigos regimes totalitários, em que a fotografia do ditador ornamentava as salas de aulas e outros recintos públicos. Prática em desuso nos dias de hoje, em que basta ao cidadão aceder às redes sociais para garantir em primeira mão imagens e publicações custeadas por quem detém o poder e pinta o retrato como bem entende.
Na Zâmbia de Kenneth Kaunda, por exemplo, até as sessões de cinema se iniciavam com a fotografia do presidente na tela e o hino nacional do país cantado em coro pela assistência, apenas depois se passando à exibição do filme. Coisas de um certo conselheiro pessoal do presidente, de origem alemã, que manteria especial apreço e apego pelas técnicas de propaganda de um extinto regime.
Os cascalenses ainda não tem de participar em rotinas semelhantes, até porque o discurso democrático é amplamente repetido, mesmo que a prática não lhe corresponda -- coisas das modernas técnicas de manipulação de massas, em que a incessante repetição da fórmula aparentemente verdadeira acaba por funcionar como alienação e retirar à contestação a sua base óbvia; assim como quem vai num eléctrico, é apalpado e ainda tem de passar pela vergonha de ouvir berrar que era isso que queria, mas não terá, obviamente.
A não ser esse o caso, resta a hipótese de o retratado ser senhor de um tal carisma e invulgaridade de feições e opiniões, que não há como resistir-lhe. E, com toda a certeza, por estes dias, uma qualquer Joana Vasconcelos vai montar uma instalação gigante com detritos estampados com o carismático rosto da figura pública local, para exibir à entrada de Cascais, ainda antes de visitantes e munícipes se depararem com a fineza arquitectónica do Cascais Villa.
É assim que se prestam honras e se imortalizam as gradas figuras públicas.

David Bonsucesso


terça-feira, 26 de maio de 2015

Carlos Alberto Rosa (1929-2005)

Carlos Alberto Rosa nasceu na freguesia do Socorro, em Lisboa, em 1929. Jurista e funcionário público, a 16 de Dezembro de 1979 foi eleito Presidente da Câmara Municipal de Cascais, pelo CDS. Manteve-se no cargo até 12 de Dezembro de 1982, cumprindo integralmente o seu mandato e guiando o concelho durante os conturbados anos que se seguiram ao 25 de Abril de 1974. Em seguida foi eleito vereador, em 1993 vogal da Assembleia Municipal. Foi também o primeiro Presidente da Bolsa de Valores de Lisboa e Porto, hoje conhecida como Euronext.

António Capucho na inauguração da placa que homenageia Carlos Rosa

Guia da Cidade (24/2/2007): "A Rotunda da Estrada da Alapraia, passou a ter a designação de, Praça Dr. Carlos Alberto Rosa.
Como forma de homenagear, a título póstumo, o munícipe e antigo presidente da Câmara de Cascais, Carlos Alberto Rosa, foi atribuído o seu nome à Rotunda da Estrada da Alapraia, passando a designar-se, Praça Dr. Carlos Alberto Rosa.
A cerimónia de descerramento da placa toponímica, contou com a presença de familiares de Carlos Alberto Rosa, nomeadamente, Maria Luísa, viúva do homenageado, do presidente da Junta de Freguesia do Estoril, Luciano Mourão e do presidente da Câmara de Cascais, António Capucho.
Carlos Rosa, Jurista e reconhecido especialista em finanças públicas, desempenhou diversas funções na administração pública, foi um activista na defesa das liberdades e da ordem democrática e presidente da Câmara de Cascais, onde desenvolveu um trabalho que todos consideram positivo."

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Parquímetros, para que vos quero?

Praia da Rainha em desenho de Luís Gabriel
Os parquímetros nas praias do concelho de Cascais vão ser mais uma forma de afastar os cidadãos do usufruto de paisagens e locais que são muito mais seus do que das pessoas a quem pagam chorudos ordenados para decidir por elas quem tem o direito de gozar o que a Natureza lhes oferece gratuitamente no local onde habitam.
A aprovação destas medidas não exime os eleitos de explicar as razões pelas quais tomam estas medidas. E não se está a falar, evidentemente, do alegado caos de estacionamento provocado pela época balnear, perfeitamente gerível pelas forças de segurança do concelho ou por medidas sazonais capazes de apoiar os prazeres de quem por cá vive e paga os seus impostos.
Quem de facto ganha com a instalação dos parquímetros nas praias de Cascais? A edilidade? As empresas escolhidas em concursos públicos? Por que razão, uma câmara que faz tanto regabofe para anunciar inaugurações de ruas e de passeios remendados, mais iniciativas cujo benefício se pode entender como duvidoso para os cidadãos locais, não publicita igualmente os passos que dá na concessão dessas explorações? Quem está a ganhar de facto com a instalação dos parquímetros no concelho de Cascais e onde é aplicado o dinheiro arrecadado com esses aparelhos?
Como é que a Câmara Municipal de Cascais vai gerir, por exemplo, a presença dos surfistas e os diversos eventos a eles ligados, que tanto anuncia nos seus meios de comunicação e nos que pode financiar? Vai atribuir privilégios especiais a esses e outros, excluindo os restantes munícipes? Com que direito? Isto só para mencionar algumas hipóteses.
Se o circo é que está a dar, como já se viu noutras ocasiões em que festas megalómanas invadiram o centro da vila -- e aí fica fora de questão a regulação do caos -- como é que a edilidade se propõe entreter os milhares de pessoas que de repente deixam de ter capacidade de frequentar as suas praias? O preço e o serviço dos transportes públicos, que já nem sequer deviam ter esse nome, são muito menos económicos do que o uso de um carro particular para uma família, por exemplo.
Será que vamos passar a ter o Anselmo Ralph no interior do concelho, a entreter as pessoas e a impedi-las de ir para a praia contrair cancros de pele e outras maleitas que ferem igualmente o erário público?
Em que momento epifânico se decidiu que os impostos servem para pagar a quem nos subjuga em vez de nos servir? Em que altura eleitos pelo povo se acharam no direito de promover medidas e leis que apenas sufocam quem neles confia?
A Natureza bafejou Cascais com muitas regalias, todas elas gratuitas, para felicidade de quem aqui vive. A ordem é possível e desejada, para manter as pessoas contentes com o uso que fazem dos seus contributos para a sua manutenção.
Além disso, a beleza natural do concelho nada é sem as pessoas que a admiram e a apreciam. Tirar-lhes isso e oferecê-las a um punhado de pagantes, à custa do seu contributo, é imoral e inaceitável. Funcionários e eleitos da autarquia trabalham para quem lhes paga, não para grupos de chupistas a quem nunca chega o que têm.
A esses se deseja que comecem rapidamente a gozar o fruto da sua extorsão e que nos deixem em paz.

sexta-feira, 24 de abril de 2015

OVNIs nos céus de Cascais

Fotomanipulação Cascais Magazine 2015 | 1980: OVNI sobre Cascais, avistado da esquina do Hotel Cidadela | Todos os direitos reservados
Quem se lembra do OVNI que visitou Cascais numa noite do verão de 1980? Foi há trinta e cinco anos, mas foi avistado por muitos. Alguns livros de estudiosos destes fenómenos e jornais locais da altura (A nossa Terra e Jornal da Costa do Sol) documentam o avistamento. Talvez seja possível encontrar os artigos nas colecções guardadas na Biblioteca Municipal ou nos arquivos dos jornais nacionais que também fizeram referência ao facto.
A imagem acima é uma reprodução feita através de uma manipulação de imagens, de um relato de três testemunhas que se encontravam na esquina do Hotel Cidadela quando depararam com um objecto oval, aparentemente incandescente e de grandes dimensões, que pairava sobre Cascais. 
Como noutros relatos do mesmo tipo, as testemunhas notaram a ausência de som, uma luz azulada que iluminava tudo e o objecto que se manteve por algum tempo no céu, disparando em seguida na direcção da baía e do mar, acabando por desaparecer completamente.
O Cascais Magazine gostava de receber os relatos de quem se lembra deste ou de outro OVNI que tenha cruzado os céus do concelho. Podem enviá-los para o email cascaismagazine@gmail.com, até ao final do mês.
O autor do melhor deles vai ter direito a um exemplar de A mulher que queria ser velha (rumoresdenuvens edições), um livro de ficção sobre um futuro possível para a nossa terra, escrito por António Costa, autor e professor de Cascais.

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Abril adormecido em Cascais?


Uma visita aos burros do Pisão e a abertura do Estoril Open vão decorrer durante o 25 de Abril em Cascais. As celebrações da data histórica em que o País se livrou da ditadura não parecem fazer parte de nenhuma agenda oficial do executivo municipal. Sinal dos tempos?
Muitos dos actuais vereadores com pelouros atribuídos não seriam sequer nascidos à data dos acontecimentos. Seria, no entanto, interessante conhecer o paradeiro dos maiores de 41 anos por altura da Revolução dos Cravos, incluindo os eleitos pela oposição.
Será difícil resistir à tentação de assistir ao Estoril Open no sábado, ou mesmo visitar o Pisão e os seus lanudos no mesmo dia. Mas quanto tempo dedicarão realmente os políticos eleitos em Cascais a celebrar o dia que se tornou o símbolo da Liberdade em Portugal? Quantos continuam a crer nos ideais de Abril e quantos se empenham verdadeiramente neles?
Da fama de terra de tias e tios já Cascais não se livra. Apesar do empenhamento em se manter como a região com maior qualidade de vida do País, que papel desempenham as "amplas liberdades democráticas" em tão ostentada exigência?
Venha pois daí a incontornável pergunta, que quase estranhamente soa nos dias de hoje: onde estava no 25 de Abril de 1974?
E que memórias lhe traz, que ideais lhe recorda? Celebra o dia ou aproveita para o passar na praia ou em frente à televisão?
De fora fica a questão de se acreditar ou não num estado social capaz de garantir os direitos básicos de todos os cidadãos, assim como na capacidade dos eleitos de efectivamente defenderem os seus eleitores...
.

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Buracos: em quantos acerta?

O desprevenido automobilista que se lembre de circular da rotunda da Torre até à rotunda do MacDonalds, em Birre, vê-se metido numa prova de obstáculos criada pelos buracos dos bueiros. Entre ocupar a faixa contrária ou atirar o carro para cima do passeio, várias possibilidades se configuram, nenhuma delas consentânea com uma condução segura.
Na avenida Infante D. Henrique, a tarefa também não é fácil, em nenhum dos dois sentidos, especialmente quando se circula do supermercado Saco para a Joaquim Ereira, onde há anos o alcatrão à volta uma tampa de saneamento é uma ratoeira para qualquer roda ou eixo de veículo motorizado.
A calçada que vai da rotunda do jardim Visconde da Luz até à Baía é o mais fino exemplo do estado de conservação das ruas de Cascais. Seria até possível cobrar bilhetes para aquele troço, à semelhança do que se faz nas montanhas-russas montadas nas feirinhas populares que proliferam pelo país.
A marginal, em frente ao Estoril, também não escapa aos buracos permanentes, assim como algumas das artérias mais concorridas do concelho, no Bairro do Rosário, na Torre, em Birre, no Cobre, na Pampilheira, no Bairro das Caixas, na Jaime Thompson, junto ao Tribunal (ao acesso deste para a rua é francamente exemplar e indescritível).
Pode afirmar-se com alguma segurança que a edilidade confia à Nossa Senhora dos Navegantes o desfecho possível da circulação rodoviária pelas ruas do concelho de muitos milhares de veículos, qualquer deles passível de sofrer graves danos devido ao péssimo estado de conservação das ruas.
Nem mesmo o afã eleitoral, que sempre faz cair alguma brita e alcatrão nos buracos, nos livra da possibilidade de acidentes mais ou menos graves quando se trata de conduzir em Cascais.
Não seria de pagar ligeiramente menos aos Anselmos Ralphs e às empresas gráficas que tão frequentemente desenham os logotipos da autarquia e investir um pouco mais na segurança de quem tem de cruzar as ruas do concelho mais chique de Portugal?
Já agora, convidamos os cidadãos locais a partilhar aqui os buracos que mais os atormentam sempre que saem de casa.

terça-feira, 14 de abril de 2015

corações que não batem


Foto MMF
A certa altura entenderam as finas cabeças dirigentes que o centro das cidades devia ser preservado, afastando-se dele o trânsito e aumentando taxas e estacionamentos pagos para que as pessoas entendessem, de uma vez por todas, que o que de bom ali existia tinha de ser apreciado e, como tal, o seu usufruto taxado de acordo com o seu valor.
Cascais, cujo centro foi até há apenas um par de décadas um coração palpitante onde todos se encontravam e trocavam utilidades várias, transformou-se numa área que ninguém, além de desprevenidos turistas, frequenta.
Um cidadão de Cascais desce e sobe a rua Direita, o Largo Camões, a Valbom ou o Visconde da Luz ocasionalmente, quando algo de premente a isso o obriga e, se tem a infelicidade de parar para um café, paga-o como se de um ignorante estrangeiro se tratasse.
O centro passou a ser um local em que os quarteirões se transformaram em gigantescas rotundas, com o trânsito a passar atabalhoadamente da entrada para a saída do burgo, sem muitas alternativas para parar ou estacionar, a menos que se tenha uma carteira cheia e capaz de assumir o pagamento mínimo de um carro parado nos locais de estacionamento que invadiram tudo, tornando impossível que uma rua tenha alguma vez dois sentidos.
Não se julgue, no entanto, que o centro melhorou exponencialmente com estas medidas, porque quem tenta por ali passar de carro vê-se em palpos de aranha para se desenvencilhar do trânsito, com um surpreendente número de carrinhas e camiões de descargas a dificultar a passagem a qualquer hora e em qualquer lugar.
As caravanas de autocarros turísticos que estacionam em todas as vias também são uma praga que, com certeza, merecia melhor solução do que ocupar a frente da baía e da Cidadela, ou outros locais com vista que deviam ser mantidos livres para usufruto de todos.
Não foram pensadas as melhores soluções para o centro histórico de Cascais e, surpreendentemente, o poder instituído e a oposição insistem, depois de provas dadas em contrário, que impedir um fluxo normal de cidadãos a essa área esvaziou-a de interesse, uma vez que não são os edifícios, as calçadas, as palmeiras e a beira-mar que fazem a beleza de um local, se não os seus observadores e a empatia que criam com os locais.
O centro de Cascais tornou-se, portanto, o Shopping Cascais, onde as pessoas estacionam de graça, fazem compras, tomam café, comem o que lhes apetece, passeiam sem torcer os tornozelos na calçada esburacada, pagam as suas contas e regressam a casa em segurança. Ou o espantoso Cascais Vila, casado com o tenebroso terminal de autocarros e a inexplicavelmente suja e insegura passagem subterrânea que vem da estação de comboios.
Quando impedidas de gozar de forma livre um local, as pessoas encontram outros e fazem muitos quilómetros para se afastarem do que as sufoca.
O centro histórico da vila mais bem cotada do País tornou-se numa passagem para turistas e carteiristas, estes últimos na sua condição oficial de delinquentes ou de policiadores do bem público maior, que já ninguém sabe exactamente o que é nem onde está, depois de curtas e inexplicáveis passagens por cofres públicos.
Tentar obrigar as pessoas a pagar por uma riqueza, uma beleza e uma história que são elas que fazem, enquanto observadoras e participantes desses fenómenos, é um conceito fútil e, portanto, destruidor.
O coração das cidades só bate através do coração dos seus cidadãos. Impedi-los de se sentirem bem e livres nos centros que eles criaram e a que deram vida é fazer fugir a alma de qualquer local.

segunda-feira, 16 de março de 2015

Arte post morten ou a arte do insucesso

Galeria do Casino Estoril: uma selecção no mínimo infeliz,
para um espaço onde já foi prestigiante expor

Diz acertadamente o ditado que ninguém é santo dentro de casa, mas há milagres cuja escassez é difícil de entender.  Como é o caso da Galeria de Arte do Casino Estoril, no badalado concelho de Cascais.
Terra de gente bem e de bem, com muitas qualidades justamente reivindicadas por todos os quadrantes políticos e sociais, morada de alguns dos maiores coleccionadores de arte particulares conhecidos, vê o seu panorama de artes plásticas confinado a uma única galeria comercial e a esporádicas iniciativas apoiadas ou negligenciadas pela edilidade local, conforme a direcção dos ventos que, como se sabe, são uma constante da região.
Já na referida galeria a constância é de diversa natureza. Há quarenta ou trinta décadas pouco abana ou agita as mostras de artes plásticas sob a égide do seu longevo director.
A insistência nos mesmos nomes e nos mesmos "salões", sem brisas refrescantes, faz-nos pensar em Arte post morten naquele espaço, onde a cada inauguração se enraiza o tédio e a convicção de que nada de novo ou interessante existe para mostrar nas artes deste concelho.
Até a disposição das obras parou no tempo e nos mesmos expositores, espartilhadas na falta de entusiasmo de quem decide como apresentar telas e esculturas no espaço.
A falta de paixão pela nobreza da arte e dos artistas é tão evidente que nem surpreende o trato fechado e quase hostil do director da galeria.
Haverá, com certeza, melhor destino para a cultura e os dinheiros a ela reservados, num futuro muito próximo e de acordo com as legítimas expectativas dos apreciadores de arte locais. E dos artistas da nossa terra, cujo trabalho merece galerias e galeristas à altura do seu trabalho.

David Bonsucesso