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quinta-feira, 11 de junho de 2015

Figuras públicas e imortais


Parece existir, na comunicação social, uma forte tendência para ilustrar as notícias sobre Cascais com a imagem do presidente do actual executivo municipal, mesmo quando o assunto não lhe diz directamente respeito, e sobretudo se versa sobre as figuras que se lhe opõem.
É uma prática no mínimo discutível, sobretudo se tivermos em conta que a figura pública em questão parece ter já o privilégio do acesso quase exclusivo aos média e à propagação dos conteúdos que mais lhe são favoráveis.
Somar a isso a publicação do seu retrato em cada notícia que refere o concelho e não lhe diz especialmente respeito, quase parece propaganda à moda dos antigos regimes totalitários, em que a fotografia do ditador ornamentava as salas de aulas e outros recintos públicos. Prática em desuso nos dias de hoje, em que basta ao cidadão aceder às redes sociais para garantir em primeira mão imagens e publicações custeadas por quem detém o poder e pinta o retrato como bem entende.
Na Zâmbia de Kenneth Kaunda, por exemplo, até as sessões de cinema se iniciavam com a fotografia do presidente na tela e o hino nacional do país cantado em coro pela assistência, apenas depois se passando à exibição do filme. Coisas de um certo conselheiro pessoal do presidente, de origem alemã, que manteria especial apreço e apego pelas técnicas de propaganda de um extinto regime.
Os cascalenses ainda não tem de participar em rotinas semelhantes, até porque o discurso democrático é amplamente repetido, mesmo que a prática não lhe corresponda -- coisas das modernas técnicas de manipulação de massas, em que a incessante repetição da fórmula aparentemente verdadeira acaba por funcionar como alienação e retirar à contestação a sua base óbvia; assim como quem vai num eléctrico, é apalpado e ainda tem de passar pela vergonha de ouvir berrar que era isso que queria, mas não terá, obviamente.
A não ser esse o caso, resta a hipótese de o retratado ser senhor de um tal carisma e invulgaridade de feições e opiniões, que não há como resistir-lhe. E, com toda a certeza, por estes dias, uma qualquer Joana Vasconcelos vai montar uma instalação gigante com detritos estampados com o carismático rosto da figura pública local, para exibir à entrada de Cascais, ainda antes de visitantes e munícipes se depararem com a fineza arquitectónica do Cascais Villa.
É assim que se prestam honras e se imortalizam as gradas figuras públicas.

David Bonsucesso