Praia da Rainha em desenho de Luís Gabriel |
Os parquímetros nas praias do concelho de Cascais vão ser mais uma forma de afastar os cidadãos do usufruto de paisagens e locais que são muito mais seus do que das pessoas a quem pagam chorudos ordenados para decidir por elas quem tem o direito de gozar o que a Natureza lhes oferece gratuitamente no local onde habitam.
A aprovação destas medidas não exime os eleitos de explicar as razões pelas quais tomam estas medidas. E não se está a falar, evidentemente, do alegado caos de estacionamento provocado pela época balnear, perfeitamente gerível pelas forças de segurança do concelho ou por medidas sazonais capazes de apoiar os prazeres de quem por cá vive e paga os seus impostos.
Quem de facto ganha com a instalação dos parquímetros nas praias de Cascais? A edilidade? As empresas escolhidas em concursos públicos? Por que razão, uma câmara que faz tanto regabofe para anunciar inaugurações de ruas e de passeios remendados, mais iniciativas cujo benefício se pode entender como duvidoso para os cidadãos locais, não publicita igualmente os passos que dá na concessão dessas explorações? Quem está a ganhar de facto com a instalação dos parquímetros no concelho de Cascais e onde é aplicado o dinheiro arrecadado com esses aparelhos?
Como é que a Câmara Municipal de Cascais vai gerir, por exemplo, a presença dos surfistas e os diversos eventos a eles ligados, que tanto anuncia nos seus meios de comunicação e nos que pode financiar? Vai atribuir privilégios especiais a esses e outros, excluindo os restantes munícipes? Com que direito? Isto só para mencionar algumas hipóteses.
Se o circo é que está a dar, como já se viu noutras ocasiões em que festas megalómanas invadiram o centro da vila -- e aí fica fora de questão a regulação do caos -- como é que a edilidade se propõe entreter os milhares de pessoas que de repente deixam de ter capacidade de frequentar as suas praias? O preço e o serviço dos transportes públicos, que já nem sequer deviam ter esse nome, são muito menos económicos do que o uso de um carro particular para uma família, por exemplo.
Será que vamos passar a ter o Anselmo Ralph no interior do concelho, a entreter as pessoas e a impedi-las de ir para a praia contrair cancros de pele e outras maleitas que ferem igualmente o erário público?
Em que momento epifânico se decidiu que os impostos servem para pagar a quem nos subjuga em vez de nos servir? Em que altura eleitos pelo povo se acharam no direito de promover medidas e leis que apenas sufocam quem neles confia?
Em que momento epifânico se decidiu que os impostos servem para pagar a quem nos subjuga em vez de nos servir? Em que altura eleitos pelo povo se acharam no direito de promover medidas e leis que apenas sufocam quem neles confia?
A Natureza bafejou Cascais com muitas regalias, todas elas gratuitas, para felicidade de quem aqui vive. A ordem é possível e desejada, para manter as pessoas contentes com o uso que fazem dos seus contributos para a sua manutenção.
Além disso, a beleza natural do concelho nada é sem as pessoas que a admiram e a apreciam. Tirar-lhes isso e oferecê-las a um punhado de pagantes, à custa do seu contributo, é imoral e inaceitável. Funcionários e eleitos da autarquia trabalham para quem lhes paga, não para grupos de chupistas a quem nunca chega o que têm.
A esses se deseja que comecem rapidamente a gozar o fruto da sua extorsão e que nos deixem em paz.